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A questão da verdade na produção de conhecimento sobre sofrimento psíquico: considerações a partir de Ian Hacking e Jacques Lacan

Texto completo
Autor(es):
Paulo Antonio de Campos Beer
Número total de Autores: 1
Tipo de documento: Tese de Doutorado
Imprenta: São Paulo.
Instituição: Universidade de São Paulo (USP). Instituto de Psicologia (IP/SBD)
Data de defesa:
Membros da banca:
Nelson da Silva Junior; Christian Ingo Lenz Dunker; Marcelo Galletti Ferretti; Gilson de Paulo Moreira Iannini; Léa Carneiro Silveira; Ilana Katz Zagury
Orientador: Nelson da Silva Junior
Resumo

O objetivo desta tese é reafirmar a necessidade de debate sobre a questão da verdade na produção de conhecimento sobre sofrimento psíquico. Parte-se da acepção de que a questão da verdade carrega duas formas principais: por um lado, ela é o termo empregado na legitimação de conhecimentos produzidos, instaurando padrões normativos; por outro, apresenta-se enquanto elemento disruptivo, sendo uma forma crítica ao saber estabelecido. Trata-se de uma discussão que engloba tanto a afirmação do caráter necessário quanto a variabilidade do conhecimento, de forma que será argumentado que o termo verdade deve ser tomado enquanto a reunião recíproca de elementos epistemológicos, ontológicos, éticos e políticos. A compreensão historicizada da ciência, formulada por Ian Hacking, permite pensar que as bases da prática científica são contingentes, mas ainda assim produzir um conhecimento necessário. Desse modo, é possível estabelecer um campo em que compreensões normativas sobre o fazer científico podem ser criticadas sem resultar num tipo de desqualificação do conhecimento produzido. Junto a isso, a proposição do filósofo de uma ontologia histórica e seu nominalismo dinâmico apresentam uma importante contribuição para o debate acerca da produção de conhecimento sobre sofrimento psíquico, ao introduzir a consideração dos efeitos ontológicos do conhecimento. Com isso, apresentamos o modo como a questão da verdade é mobilizada dentro da psicanálise lacaniana, a partir de três elementos centrais: a autonomia da verdade em relação ao sujeito (a verdade fala), o caráter opositor e temporário de uma verdade positivada em relação ao saber estabelecido (a verdade enquanto crítica) e a dimensão negativa da verdade que responde à inesgotabilidade desse processo dialético de negações (a verdade como diferença radical). Argumentamos que é possível pensar em um estilo de raciocínio (nos termos de Hacking) próprio à psicanálise, baseado numa noção de negatividade forte. Além disso, ambas as racionalidades trabalham com uma concepção de conhecimento historicizada e que não responde a nenhum critério externo (ou interno) que garanta sua verdade. Entretanto, a psicanálise leva a questão da negatividade mais longe do que a filosofia da ciência de Hacking, oferecendo possibilidades mais amplas de pensar a causalidade do sofrimento psíquico. Os dois caminhos levam, mesmo que com diferentes intensidades, à necessidade de implicação ética e política na produção e no uso do conhecimento. Uma vez que não há uma instância que garanta epistemologicamente o saber, a pertinência de sua produção é tributária de acordos sociais e posicionamentos éticos. Há, portanto, a necessidade de consideração de relações de poder. Por fim, argumentamos que a negatividade forte que sustentamos a partir da psicanálise localiza o político enquanto o campo de negociação por excelência, inescapável pelo próprio fato de que não é possível cristalizar uma forma da verdade que não seja a afirmação da diferença. Sustentamos, desse modo, que a introdução da questão da verdade tem como horizonte a produção de um conhecimento sobre sofrimento psíquico que coloque em xeque, a todo momento, seus pressupostos epistemológicos, ontológicos, éticos e políticos (AU)

Processo FAPESP: 16/03096-7 - A noção de verdade na psicanálise e na filosofia da ciência
Beneficiário:Paulo Antonio de Campos Beer
Modalidade de apoio: Bolsas no Brasil - Doutorado