O sentimento da cidade nas cronicas de drummond. uma analise de fala, amendoeira.

Resumo

A extensa produção em prosa de Drummond, em sua grande diversidade de formas e temas, possui importante valor para a reflexão sobre a cultura e a sociedade brasileiras. No entanto, a crítica, embora utilize a obra em prosa do escritor como apoio para a interpretação de seus poemas e para o estudo de passagens da história de nossa cultura, não tem atentado para aqueles textos que podem ser classificados como crônicas literárias. É esta parcela da obra de Drummond que pretendemos analisar em nosso projeto, tomando como objeto o livro Fala, Amendoeira, de 1957. Trata-se de sua primeira obra em que pode ser identificada a predominância da crônica literária, gênero que, como aponta Antonio Cândido, caracteriza-se por abordar fatos do cotidiano em textos de extensão breve, estruturados muitas vezes a partir de um fio narrativo que permite, através do relato de cenas corriqueiras, a reflexão sobre temas da vida do homem comum. Após um breve panorama das modalidades de crônica produzidas pelo escritor, passamos à análise dos textos de Fala, Amendoeira, na qual acompanharemos um dos temas centrais do livro: a vida na grande cidade brasileira em meados do século XX. Ao escolhermos esse recorte, não nos interessam apenas as crônicas em que a cidade ou alguns de seus espaços são representados de modo central, mas também aquelas cuja construção parece dar vazão é percepção crítica das formas de relação determinadas pela dinâmica urbana. A cidade, assim, aparece como metáfora ou síntese da experiência histórica que fundamenta os textos da coletânea. Ao procurarmos entender o sentimento da cidade em Fala, Amendoeira, estudaremos, portanto, o modo com que algumas formas da modernização brasileira no século XX são figuradas na prosa de Drummond. (AU)