Mazzaropi: os estados do campo cinematografico brasileiro nas decadas de 1950 e 60.

Resumo

O ponto-chave da pesquisa é mostrar, após a análise das trajetórias social e artística de Mazzaropi, das bases de sua concepção de cinema, do campo cinematográfico entre a década de 40 e 80, e dos fundamentos da crítica cinemanovista que o detratou durante grande parte de seu período ativo, que Mazzaropi apresentava em seus filmes uma preocupação social e política pungente, ignorada por seus opositores no campo cinematográfico, o grupo do Cinema Novo e seus apoiadores. Estes atuavam tanto na produção quanto na crítica cinematográfica (como é o caso de Alex Viany, Glauber Rocha, Nelson Pereira dos Santos, entre outros), e, no controle desta instância de legitimação, incensavam as produções alinhadas ao ideal cinemanovista de arte - um cinema artesanal, independente, feito com baixos recursos, que incorporasse esteticamente a falta de recursos do terceiro mundo -, e diminuíam o cinema industrial, do qual Mazzaropi foi o principal defensor no Brasil dos anos 50 até o início dos anos 80. Mazzaropi foi transformado em lixo ideológico por tal parcela da crítica, mas a hipótese portada por esta pesquisa é a de que este diagnóstico, fundamentado em um movimento de autolegitimação engendrado pelo grupo do Cinema Novo, ao não enxergar além das diferenças de concepções cinematográficas, ignorou o empenho e o engajamento presentes nos filmes de Mazzaropi. Temas como o coronelismo, a reforma agrária, a miséria do povo caipira e a valorização da cultura brasileira são recorrentes no cinema de Mazzaropi, e, ao entender isso, torna-se possível abstrair daí um entendimento alternativo do período por parte de Mazzaropi, um homem pobre, caipira, criado nos meios de produção cultural popular, muito diferentemente dos rapazes do Cinema Novo, geralmente de classe média, metropolitanos, educados nos meios de produção cultural independente.