Uma outra história da Casa do Morumbi: reflexões acerca do colonialidade na arquitetura

Resumo

Esse trabalho tem como objetivo investigar a colonialidade na arquitetura brasileira a partir da residência construída no bairro do Morumbi 1951 pela arquiteta Lina Bo Bardi para ela e seu marido. Com esse propósito, a ideia é refletir sobre os atravessamentos entre gênero, raça, classe e espaço em duas escalas: fora e dentro do espaço doméstico. Na primeira, pretende-se analisar o entorno urbano e a cidade a partir dos anúncios publicitários do Jardim Morumbi dos anos de 1950 como parte da construção de uma visualidade e imaginários de ideais de família, cidade e privilégios. Na segunda, o intuito é explorar o trabalho e as trabalhadoras domésticas a partir da Casa dos Caseiros, anexo construído em 1952 no mesmo terreno, articulando questões sobre domesticidade e cultura material. Essas duas escalas são indissociáveis na medida em que se retro-alimentam de uma mesma lógica que oblitera determinados espaços, materialidades, corpos, sujeitos e narrativas. Como base metodológica, a pesquisa parte da perspectiva de Aníbal Quijano (2005), que compreende a noção de colonialidade como constitutiva e, portanto, inseparável da modernidade, para investigar seus significados dentro do campo da arquitetura. Essa pesquisa objetiva contribuir com estudos recentes dentro da disciplina que evidenciam a questão racial como central na constituição da arquitetura moderna, como a coletânea de artigos organizada por Irene Cheng, Charles Davis e Mabel Wilson (2020).