Dramaturgia comparada: as figurações do nacional e do popular nas dramaturgias musicais dos Estados Unidos e do Brasil (1910 - 1940)

Resumo

O objetivo deste projeto de pesquisa é analisar e comparar as figurações do nacional e do popular em dramaturgias musicais dos Estados Unidos e do Brasil entre os anos 1910 e 1940. Através da inspeção de arquivos, bibliotecas e acervos em busca de textos teatrais, mas também de eventuais partituras, registros fonográficos e jornalísticos do período em questão, procura-se investigar de que forma a ideia de "nação" e de "povo" foram construídas em dois diferentes gêneros de teatro popular desses países, o teatro de variedades norte-americano e o teatro de revista brasileiro, bem como investigar os contatos entre essas duas matrizes. Para tanto, analisaremos as representações da matéria social, política e econômica dos Estados Unidos em uma seleção de peças musicais de gêneros desse período, como o vaudeville, o minstrel show, a revista e o musical, buscando compreender a função do uso de estilos musicais associados ao Sul do país, como o blues, o jazz e o ragtime, na popularização desse teatro. Além disso, examinaremos também as figurações sócio-históricas do "povo" brasileiro em dramaturgias do teatro de revista no Rio de Janeiro no período, dedicando especial atenção ao emprego de ritmos brasileiros, como o maxixe, o lundu e o samba na construção de um teatro popular. Por fim, investigaremos como o aporte massivo de expressões culturais estadunidenses na cidade do Rio de Janeiro a partir dos anos 1920, sobretudo através do cinema de Hollywood e da popularização de ritmos musicais estadunidenses pelo rádio, produziu um profundo impacto sobre o processo de modernização cênica já documentado na história do teatro brasileiro. A partir da pesquisa de materiais de um período ainda pouco estudado da dramaturgia brasileira, procuramos comprovar a hipótese de que a incorporação de uma matriz teatral estadunidense ligeira já popular em seu contexto de origem representou não apenas uma mudança profunda no caráter popular do teatro de revista brasileiro, mas um importante passo no percurso que culminaria no marco de surgimento do moderno teatro brasileiro, em 1942.