Humor como incongruência: Pragmática e o caso da ironia

Resumo

A linguagem pode ser usada para muitas finalidades além da descrição do mundo, como observado por J. L. Austin (1962). Por meio de dispositivos linguísticos, podemos levantar objeções, fazer promessas, declarar guerras e contar piadas. Este projeto de pesquisa tem por objetivo analisar o uso de dispositivos da pragmática linguística, isto é, implicaturas, atos de fala e pressuposições, para gerar humor em determinados contextos. Diferente de Austin, porém, os contextos conversacionais cômicos serão considerados como cooperativos neste estudo, não sendo relegados ao status de "contextos não-sérios". Para isso, será defendida a tese da incongruência, isto é, de que o efeito humorístico é proveniente da apresentação de alguma incongruência com características específicas que permite a fruição da comicidade. Os dispositivos da pragmática em questão são mobilizados para criar um ambiente cômico, em que o falante não assume compromisso com a verdade e a falsidade de suas asserções, e apresentar as incongruências que serão objeto humorístico. As implicaturas e as pressuposições são meios de apresentação sutil dessas incongruências, o que é essencial para boa parte do humor. Um exemplo paradigmático que será explorado com maior detalhamento será o das ironias, dada sua ampla difusão no humor influenciado pelas mídias sociais. Um argumento central a este projeto será o de que a definição de ironia apresentada por Grice (1989), e tomada como clássica, não se aplica a todos os casos. Objeções também podem ser levantadas a outras definições de ironia, como a de Sperber & Wilson (1981) e as que envolvem apelo a significados não-literais. Por fim, será proposto um novo conceito de ironia, que capte os casos não abarcados nas teorias clássicas e as novas formas de ironia difundidas nas redes.