A noção de "alguma verdade" na segunda metade da Meditação Sexta.

Resumo

Uma investigação a respeito da articulação entre o que Descartes denomina de "alguma verdade" e a longa exposição sobre a natureza da união substancial nas últimas páginas da Meditação Sexta é um desdobramento absolutamente necessário para a compreensão da noção de corpo humano no cartesianismo. Na Meditação Sexta, a noção de "alguma verdade", presente em sentimentos levam à alma o conhecimento de seu corpo e da necessidade de conservação dele, desempenha um papel fundamental na prova da união substancial da alma e do corpo. Porém, logo em seguida, Descartes nos fala que essa espécie de sentimentos pode enganar a alma no que diz respeito às necessidades do seu corpo, prejudicando-o ao invés de levar-lhe ao seu benefício. Como compreender então a noção de "alguma verdade" nos sentidos se, pela experiência mesma, ela se mostra enganadora? Como afirmar e construir um conhecimento sobre corpo se até o sentimento que me é apresentado com mais veracidade se mostra também enganadora? Podemos ainda falar de uma medicina cartesiana? Ou antes, da possibilidade de liberdade do homem enquanto união substancial? O estágio de pesquisa BEPE-FAPESP busca responder essas questões insistindo no caráter da noção de alguma verdade ligada à compreensão da natureza humana pela experiência contínua da relação entre o corpo e alma, que permite não só responder a essas questões como também proporcionar uma compreensão ímpar da noção de corpo humano dentro do pensamento cartesiano. Assim, busca-se aprofundar a pesquisa de iniciação científica, intitulada "A temática do corpo humano no pensamento cartesiano" (FAPESP 2023/12356-6).