Patriarcado e territorialidade quilombola no Vale do Ribeira: um estudo sobre a relação entre gênero e trabalho na comunidade do Ribeirão Grande-Terra Seca

Resumo

Os territórios negros do Vale do Ribeira foram formados em um período de transição da mineração à rizicultura na região (meados do século XIX), no qual se destacou a ampla mobilidade de escravizados abandonados e fugidos. Os laudos antropológicos das comunidades negras rurais que hoje ocupam esses territórios apontam, de um lado, para a proteção que eles garantiram contra a escravidão e, de outro, para a formação de relações de produção mediadas não somente por laços de reciprocidade, mas também por relações patriarcais (relações de poder do homem sobre a mulher). No entanto, as transformações na estrutura fundiária do Vale do Ribeira, impulsionadas pela expansão da propriedade privada da terra desde os anos de 1930 e pela implementação de políticas ambientais a partir da década de 1950, juntamente com a mobilização social das comunidades negras rurais, que passaram a se autoidentificar como comunidades quilombolas entre os anos de 1990 e 2000, impactaram diretamente as relações de gênero dentro dos territórios negros e, consequentemente, as relações de poder entre homens e mulheres. A perspectiva da presente pesquisa é que a investigação dessas mudanças, das formas como elas se engendraram nas vidas de mulheres e homens específicos, pode contribuir para a compreensão do papel do patriarcado, das suas possibilidades de reiteração e subversão, no interior das territorialidades quilombolas vale-ribeirenses. Por essa razão, propõe-se analisar a relação entre gênero e trabalho na produção da territorialidade de um quilombo da região, a comunidade do Ribeirão Grande-Terra Seca, localizada no município de Barra do Turvo, SP, a fim de empreender uma reflexão crítica sobre as suas relações patriarcais.