Sobre a transitividade das autorias nos processos editoriais:um estudo da constituição de biógrafa e biografada em "a vida de charlotte brontë" (2020)

Resumo

Este projeto busca analisar o leitor projetado na mediação de um objeto editorial em que um jogo de composições de autoria se dá, em seu processo de produção e circulação. Partimos de bases teórico-metodológicas do quadro de Análise do Discurso, em especial as formulações de Dominique Maingueneau sobre o discurso literário (2006), na qual a noção de paratopia criadora procura descrever a dinâmica sistêmica em que a autoria se institui, atestando sua transitividade nas três instâncias (pessoa, escritor, inscritor) que se enlaçam em um nó borromeano, somando a esse os estudos das mediações proposto por Régis Debray (2000) e os estudos de Pierre Bourdieu sobre a o mercado editorial (2018). Dessa perspectiva focalizaremos o título A Vida de Charlotte Brontë, publicado pela primeira vez no Brasil em 2020, pela editora Pedrazul, mais de cento e sessenta anos após a primeira publicação (1857), que oferece ao público leitor brasileiro destas duas romancistas inglesas, uma primeira tradução da biografia para o português brasileiro. Observamos nesse objeto editorial interessantes aspectos em relação a autoria da biógrafa, Elizabeth Gaskell, e da biografada, Charlotte Brontë, que cultivaram uma relação amistosa durante o curto período em que Brontë desfrutou da fama advinda da publicação de seus romances na Inglaterra, alguns anos antes de sua morte prematura. Dessa maneira, interessa a este projeto o jogo de constituição da autoria de biógrafa em relação com a autoria da biografada, delimitadas ambas a partir de uma posição no campo que o selo editorial institui e alimenta.