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A relevância da interculturalidade na formação de psicanalistas críticos: encontro de saberes sobre sofrimento psíquico e estruturas de poder

Processo: 21/05345-2
Modalidade de apoio:Bolsas no Brasil - Pós-Doutorado
Vigência (Início): 01 de abril de 2022
Vigência (Término): 31 de março de 2025
Área do conhecimento:Ciências Humanas - Psicologia - Fundamentos e Medidas da Psicologia
Pesquisador responsável:Miriam Debieux Rosa
Beneficiário:Raoni Machado Moraes Jardim
Instituição Sede: Instituto de Psicologia (IP). Universidade de São Paulo (USP). São Paulo , SP, Brasil
Assunto(s):Psicologia clínica   Psicanálise   Interculturalidade   Formação profissional   Teoria crítica   Teoria psicanalítica   Sofrimento psíquico   Poder (psicologia)
Palavra(s)-Chave do Pesquisador:Conhecimentos Tradicionais | Formação profissional | Pensamento Decolonial | Teoria Crítica | Teoria Psicanalítica | Psicologia Clínica - Psicanálise

Resumo

Atualmente vem se expandindo o diálogo entre a teoria psicanalítica e as reflexões sociológicas, antropológicas, históricas e econômicas. Apesar de grandes ícones da psicanálise, como Freud e Lacan, terem apontado para a importância de uma prática psicanalítica contextualizada, a maioria das instituições que oferecem formação em teoria psicanalítica no Brasil deixam de fora bibliografias que poderiam colaborar com a devida formação social, política e histórica dos que escolhem esse ofício, favorecendo um déficit fundamental da escuta psicanalítica. O estudo das estruturas socioeconômicas de forma contextualizada leva-nos a refletir sobre o período colonial e suas heranças na atualidade, as chamadas colonialidades. Buscaremos articular o sofrimento psíquico de grande parte da população brasileira e a história social, particularmente a escravidão e a divisão racial do trabalho que fundou o capitalismo moderno. Talvez tenha sido Lacan, em seu retorno a Freud, quem reinaugurou a possibilidade de pensar o sujeito da psicanálise na relação com a esfera pública. "O inconsciente é a política", afirma o francês em um de seus intrigantes aforismos do Seminário XIV. A enigmática frase é paralela de outra provocação lacaniana dirigida aos psicanalistas: que renuncie à prática da psicanálise o analista "que não conseguir alcançar em seu horizonte a subjetividade de sua época" (1998a[1953], p. 322). Aquele que não puder situar historicamente o falante e seu sofrimento não poderá fornecer um espaço de dialetização das opressões em jogo, e assim escamoteará da clínica sua função emancipatória. A democratização da clínica e a articulação com a teoria crítica contextualizada tensionam rumo a novos aportes epistêmicos, capazes de representar o lado silenciado, sacrificado na escuta que temos enquanto humanidade, enquanto nação: trata-se da visão de povos e comunidades tradicionais do Brasil sobre o sofrimento psíquico. Como faz reiteradamente em textos técnicos e metapsicológicos, Freud afirma o caráter inacabado do saber psicanalítico. No entanto, em termos epistêmicos, pouco foi alterado, desde a sua fundação sobre a mitologia grega até a descrição das psicopatologias com base nos casos por ele atendidos. É justamente disso que se trata o presente projeto: estabelecer diálogos epistêmicos entre a psicanálise e as populações tradicionais, no formato do já existente projeto Encontro de Saberes. Coordenado pelo professor José Jorge de Carvalho, o Encontro de Saberes é uma iniciativa do INCTI/CNPq. Os mestres e mestras dos saberes tradicionais serão convidados a compor um seminário destinado à pós-graduação em parceria com professores da USP. Mestres e professores serão convidados a partir de consultas ao INCTI/UnB e ao Laboratório Psicanálise e Sociedade/USP. Previamente ao seminário, acontecerá um intercâmbio entre os acadêmicos e os sujeitos de tais conhecimentos para definição do escopo das falas. A voz que narra a própria história é o que fundamenta a possibilidade de compreensão dos sintomas, sendo ela insubstituível no tratamento clínico e no aprendizado do sujeito sobre a sua dinâmica afetiva diante do mundo. Partindo desse pressuposto, escutar os mestres dos saberes tradicionais é indispensável para compreender os quadros de sofrimento gerados pelas atuais estruturas de poder. Se o acesso à clínica pública vem sendo democratizado, é preciso que essa democratização atinja a formação de psicólogos e psicanalistas. A pergunta que guiará o projeto será: como os mestres e mestras dos saberes tradicionais compreendem o sofrimento psíquico em sua relação com as estruturas de poder e como lidam com ele? O desafio é realizar o projeto junto ao Laboratório Psicanálise e Sociedade/USP, polo de produção e formação de psicólogos e psicanalistas críticos, atentos à relação dialética entre a constituição das subjetividades e as estruturas sociais, seus sintomas sociais e pessoais e suas consequências na clínica e na teoria psicanalítica. (AU)

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