Metá Metá: o conhecimento sociocultural através da canção contemporânea

Resumo

Participantes do que a imprensa e alguns pesquisadores batizaram de "nova cena brasileira independente", Juçara Marçal (1962), Kiko Dinucci (1977) e Thiago França (1980) formam, desde 2008, o trio paulistano Metá Metá. Seus discos, trabalhos solos e em parcerias já renderam prêmios importantes e uma série de críticas positivas, no Brasil e no exterior. Refratária ao considerado mainstream e às grandes gravadoras, tal repercussão é fruto das novas dinâmicas de produção e circulação de bens culturais viabilizadas pela internet, bem como de uma postura renovada do artista ao gerenciar a própria carreira. Destacar uma parcela dessa cena também chamada de "nova MPB" permitirá captar e problematizar aspectos ainda inexpressivos nos mapeamentos já feitos. Aventa-se, nessa direção, que o modus operandi do Metá Metá, dispensando empresários, financiamentos coletivos e editais de incentivo à cultura, seria índice não só de um empreendedorismo musical como também de uma percepção apurada do encolhimento de um horizonte de expectativas que se acentuaria a partir de 2013 no Brasil. Afinado com os meus estudos anteriores sobre a canção brasileira à luz de contribuições do materialismo cultural, este projeto de pós-doutoramento objetiva, assim, compreender e interpretar a matéria sócio-histórica desse cancioneiro contemporâneo, o que exige atentar igualmente para a sua linguagem, marcada por experimentalismo, pesquisa sonora, fusão de referências locais e mundializadas e pela releitura de tradições afro-diaspóricas, além de abordagens sensíveis a lutas e reivindicações candentes na atualidade, sem ser, contudo, uma canção panfletária. A tentativa de enfrentamento da exaustão das formas pelos músicos aqui realçados e seus parceiros parece estar intimamente relacionada à crise conjuntural que atravessa a sociedade brasileira, principal hipótese a ser explorada e discutida. (AU)