Aplicacao da biodiversidade de microalgas nativas do Brasil: importancia dos aspectos taxonomico, sistematico e filogenia molecular.

Resumo

As microalgas têm sido cada vez mais estudas para a aplicação na alimentação humana e animal, na produção de biodiesel, de pigmentos, fármacos, entre outros. Para uma aplicação segura e padronização dos compostos obtidos a partir das microalgas, e dos cultivos em larga escala, ou mesmo para permissão de comercialização em alguns países, a identificação correta dos microrganismos é essencial (Borowitzka et al. 2016).No entanto, a classificação das microalgas tem passado recentemente por modificações, de modo que os sistemas de classificação antigos e artificiais estão sendo substituidos por um sistema de classificação novo e mais natural, o sistema filogenético. Atualmente, a sistemática de níveis como famílias e gêneros é considerada provisória, uma vez que a amostragem molecular detalhada se faz necessária para o correto posicionamento e identificação dos táxons de microalgas cocóides (Krienitz et Bock, 2012).Alguns grupos principais das algas verdes planctônicas foram estudados recentemente por métodos moleculares, tendo sua filogenia e identificação passado por reelaborações (e.g. Bock et al. 2010, Huss et al. 1999, Garcia et al. 2017). Um exemplo de gênero economicamente importante, por ser utilizado para alimentação é Chlorella, para o qual as formas celulares simples subestimam a diversidade genetica, cujo formato "bola verde", observado em várias linhagens filogenéticas independentes desta espécie, corresponde a gêneros e espécies diferentes, definidos por biologia molecular (Huss et al. 1999, Neustupa et al. 2009). A análise dos marcadores 18S e ITS- 1 e -2 rDNA da família Chlorellaceae (Luo et al. 2010) diferenciou seis gêneros dentro do clado de Chlorella, revelando que vários critérios morfológicos são características fenotípicas, representando respostas adaptativas a fatores ambientais. Portanto, linhagens morfologicamente semelhantes podem ser bem diferentes em termos moleculares e cepas distintas morfologicamente podem ser muito semelhantes em sua biologia molecular.A sistemática e a delimitação de espécies em protistas, onde as microalgas estão inseridas, tem sido discutidas recentemente em muitas publicações e ainda apresentam questões controversas (Rysánek et al. 2015), estando a circunscrição das espécies e o padrão de especiação destes organismos entre os tópicos centrais dessa discussão (Malavasi et al. 2016). O conhecimento acumulado até o momento sugere que tanto o conceito morfológico como o conceito biológico de espécies não podem resolver as questões centrais do agrupamento natural das microalgas verdes cocóides (Krienitz et Bock 2012), sendo a aplicação do conceito filogenético de espécies essencial para a identificação e sistematica das microalgas.Apesar da crescente importância econômica e ecológica das microalgas, dos problemas relacionados a sua identificação e da necessidade de identificação correta para maior qualidade na aplicação biotecnológica dos organismos, muitos estudos carecem ainda de um trabalho taxonômico robusto.Desta forma, a criação de uma base taxonômica vigorosa obtida com taxonomia tradicional e relações filogenéticas, é um passo importante para o estudo destes microrganismos e para a sua aplicação com segurança e qualidade.