Manipulação da palavra e jogos de poder no serralho de Montesquieu

Resumo

A presente proposta tem como objetivo analisar a intriga do harém das Cartas persas de Montesquieu, buscando compreender o espaço do serralho. O estudo parte do princípio que este espaço se elabora a partir das diferentes perspectivas apresentadas pelos epistolários integrantes do harém: as esposas, os eunucos, e o mestre. Assim, a pesquisa pretende analisar os procedimentos linguísticos e o léxico empregados nas cartas dos diferentes membros com o intuito de verificar que a palavra se constitui como uma arma de manipulação, evidenciando o embate das forças entre as diferentes instâncias do harém. Dentro dessa perspectiva, o serralho de Montesquieu não é concebido como um mero elemento de exotismo oriental, mas como o ambiente do despotismo doméstico que estabelece o vínculo entre a intriga do harém e as reflexões político-filosóficas tecidas ao longo do romance. A hipótese levantada pela pesquisa propõe analisar o espaço do serralho convocando o conceito de heterotopologia de Michel Foucault, que concebe o discurso e a razão (logos) de um espaço (topos) outro (hetero) como meio de contestação dos espaços familiares. Sendo assim, o serralho, representado através a palavra das tensionadas vozes do harém, constituiria o contra-espaço - ficcional - ao ocidente, onde a infertilidade do sistema despótico e as violentas consequências da tirania se manifestam.