Inspirações sobre o fazer(-se) político: dinâmicas cosmopolíticas entre os Guarani-Mbya

Resumo

Se a figura do líder "religioso", referido como líder de migrações e por vezes associado a uma posição política (jamais destacada das relações de parentesco), foi não raro associado a um foco de resistência dos povos Guarani com relação a um modo de organização que preza pela fixidez e pela centralização, não é possível negligenciar, nos dias de hoje, a configuração de "novas" formas e estratégias de liderança e ação política que emergem no embate com a política dos "brancos", por exemplo, com a luta pela terra ou com os projetos de desenvolvimento ou resgate cultural sob a rubrica da "cultura", onde o domínio da burocracia corresponde a um maior domínio da arena de batalha. Este projeto pretende então, através de pesquisa bibliográfica e de campo, se debruçar sobre a atual relação da chefia política com o xamanismo guarani e verificar de que maneira eles seguem estreitamente imbricados na produção de sujeitos, coletivos, discursos e práticas entre os Guarani-Mbya que habitam as regiões Sul e Sudeste do Brasil. Não se trata aqui de pensar uma política guarani desvinculada das políticas públicas do Estado, mas de analisar como essa relação é agenciada de um modo propriamente guarani, revelando forças e resistências produtivas e criativas e elucidando o intenso trabalho de tradução e transformação aí implicado, uma vez que diferentes domínios e perspectivas demandam diferentes retóricas e ações, e identidades tornam-se armas políticas, principalmente após a promulgação da Constituição de 1988. (AU)