Os mesmos camponeses que fizeram a revolução: parentesco, território e história em um vilarejo haitiano

Resumo

Entre os moradores de Samson, parte das sessões rurais de Milot, no norte do Haiti, fluxos de alimentos, sangue, nomes, trabalho e pessoas são centrais para a sociabilidade local. Tais fluxos são importantes tanto para o estabelecimento de conexões com grupos domésticos vizinhos, quanto para a própria definição de um grupo doméstico particular. Agindo através de um conjunto de substâncias e em diferentes escalas, as trocas e circulações influem na constituição do corpo de pessoas, na definição da pertença e no estabelecimento da vizinhança. Ao considerarmos a mobilidade que marca o contexto haitiano em geral, particularmente a partir da década de 1970, é possível refletir também sobre o modo como tais movimentos e trocas não se restringem somente à comunidade local, mas avançam para além das fronteiras nacionais. Minha intenção através desta pesquisa é etnografar e refletir sobre os modos como tais fluxos (e os diferentes elementos em trânsito) agem na territorialidade e na temporalidade locais, particularmente em sua relação com a terra, com o tempo e com a história, constituindo socialidades específicas e formas diversas de intersubjetividade, da qual o próprio parentesco. (AU)