Programação fetal induzida pelo exercício fetal durante a gravidez e a modulação dos componentes do sistema renina-angiotensina e sistema calicreína-cinina

Resumo

Estudos epidemiológicos e com animais têm sugerido que as primeiras experiências nutricionais do indivíduo podem afetar a suscetibilidade do feto a desenvolver doenças crônicas relacionadas a Síndrome Metabólica quando adulto. Esse fenômeno é denominado de imprinting metabólico ou reprogramação fetal. Essas alterações metabólicas podem afetar dois sistemas que controlam a pressão arterial, o Sistema Renina-Angiotensina (SRA) e Sistema Calicreína-Cinina (SCC). Além do papel chave de homeostase cardiovascular através do controle do balanço hidroeletrolítico e dos tônus vasculares, o SRA é muito importante durante a gravidez, pois atua no controle do fluxo sanguíneo útero-placentário. Também tem papel relevante na resposta inflamatória local no endométrio, na angiogênese (aumento da vasculatura uterina) e no remodelamento hemodinâmico. Por isso mudanças na composição do SRA no tecido uterino durante a gravidez estão associadas com modificações fetais, no crescimento e na diferenciação do útero. Além disso condição anormal do SRA pode afetar o rim levando a uma diminuição do seu peso em relação ao peso do corpo do recém-nascido e também redução no número de glomérulos ao nascer o que resulta em uma hiperfiltração glomerular com aumento a pressão. Em suma esses resultados mostram que há uma associação entre alterações renais no feto provocado pela mudança do ambiente uterino e aumento da incidência de hipertensão no adulto. Assim como o SRA, os componentes do SCC também estão presentes na placenta e atuam na regulação do fluxo sanguíneo placentário. Na gravidez, o SRA é responsável pelo aumento do débito cardíaco e do fluxo sanguíneo uterino. Porém, a pressão sanguínea diminui durante a gravidez por causa da redução da resistência vascular periférica associada com o predomínio vasodilatador de componentes do SCC como a bradicinina e óxido nítrico (NO) sobre substâncias vasoconstritoras. Além disso, estudos mostram que esse sistema está relacionado com implantação e com a regulação do fluxo sanguíneo placentário. O nosso grupo vem estudando se o exercício físico durante a gravidez pode gerar doenças cardiovasculares como ocorre em proles adultas de grávidas desnutridas. Essa pesquisa foi inicialmente proposta devido ao fato de no exercício menos nutrientes maternos são disponibilizados para o feto. Assim há uma concorrência nutricional, pois, o feto tem que dividir com a mãe o oxigênio e os nutrientes para suprir suas necessidades durante o exercício. Estudos mostraram que exercícios durante a gravidez causa diminuição do tamanho fetal ao nascer, redução do tamanho do cordão umbilical e do tamanho da placenta. Porém, nenhum estudo foi publicado avaliando as proteínas do Sistema Renina-Angiotensina (SRA) e o Sistema Calicreína-Cinina (SCC) em mães que praticam o exercício durante a gravidez. Também não há relatos de como uma possível alteração desses sistemas maternos pode vir a contribuir ou não para o retardo do crescimento fetal e o desenvolvimento de doenças cardiovasculares na prole. Por isso esse projeto tem como objetivo avaliar a programação fetal induzida pelo exercício físico durante a gravidez e a modulação dos componentes do Sistema Renina-Angiotensina e Sistema Calicreína-Cinina materno e nas proles. Objetivamos ainda contribuir com conhecimentos nessa área, que ainda é muito escasso e esclarecer algumas dúvidas em relação ao maleficio/benefício do exercício durante a gravidez. Pretendemos desse modo sugerir um método não farmacológico para a prevenção de doenças cardiovasculares. (AU)