Diálogo com o invisível: mito e verdade em Dora Ferreira da Silva

Resumo

Este projeto pretende analisar a obra da poeta e tradutora Dora Ferreira da Silva, tendo como horizonte a tensão dialética que se estabelece quando tal obra poética almeja um resgate do mundo arcaico grego - marcado pelo pensamento religioso e mítico - em pleno século XX, onde o processo de secularização é incontornável para discutir expressões artísticas que dialogam com o mundo do sagrado. Um dos nomes da recente poesia brasileira, Dora integraria o que o crítico Benedito Nunes chama de vozes reflexivas da poesia da década de 80. No entanto, devido a particularidades de sua obra, ela parece destoar da tradição contemporânea, sendo difícil localizá-la entre os autores que a integram. O objetivo principal desta pesquisa é identificar na obra poética de Dora Ferreira, ainda pouco estudada, os aspectos que a tornam particular no contexto atual, um deles, apontado por críticos da autora, seria justamente a presença de todo um mundo arcaico que Dora solicita e que aparece nos versos na forma de uma atmosfera mítica. Se a poesia contemporânea estaria voltada para uma reflexão sobre si mesma ("metapoesia") e sobre sua verdade e alcance junto à sociedade, como acredita Benedito Nunes, a obra de Dora Ferreira seria aqui discutida justamente a partir da sua escolha em trazer à tona esse mundo arcaico colocando-o em diálogo com um mundo moderno secularizado, o que nos leva a questionar: é realmente pertinente evocar um pensamento orientado para o passado em um mundo que parece atuar como diluidor da tradição? Esse sagrado mítico resgatado faria sentido, encontraria lugar, ajudando de fato a constituir a verdade poética em Dora e, de certa forma, a dizer algo sobre o poeta e a poesia no contemporâneo?