A literatura incômoda: Roberto Bolaño e suas leituras argentinas

Resumo

Esta pesquisa visa mapear o importante papel que a literatura argentina exerce nos livros do escritor chileno Roberto Bolaño, principalmente no que se refere aos debates, desenvolvidos em momentos-chave, sobre os processos de produção, circulação e legitimação que configuram as condições de possibilidade enunciativa do discurso literário. Assim, tomaremos de início a obra de Jorge Luis Borges, cujos contos e ensaios têm como fundamento constitutivo a contradição entre o que se escreve e desde onde se escreve (e se lê), tensão essa que ganha uma dimensão ética, como proporemos a partir de La literatura nazi en América. Em seguida, com base no texto "Derivas de la pesada", buscaremos compreender as estratégias implicadas na crítica de Bolaño àquilo que chama de "três pontos de referência" da literatura argentina atual: Osvaldo Soriano, Ricardo Piglia e Osvaldo Lamborghini. Mostraremos como o dissenso para com a persistência de tais projetos, elaborados nos anos 1970-1980, décadas de forte ditadura, está relacionado com a mudança de paradigma discursivo após a chamada transição democrática. Por último, veremos como a busca por lugares diferenciados de enunciação, e mesmo pela problematização da noção de "literatura", a partir dos 1990, possui confluências com a obra de Bolaño. César Aira, Washigton Cucurto e outros que, associando formalmente processos de significação do texto literário e modos de produção e circulação, fornecem uma tentativa de criação de um campo literário subterrâneo ou paralelo, cenário que possui consonâncias com o de Detectives Salvajes. Desse modo, espera-se contribuir para o entendimento das discussões nas quais a obra de Roberto Bolaño participa e pode fornecer um ponto de reflexão privilegiado. (AU)