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A consagração social de um gosto controverso: prédios "neoclássicos" no espaço residencial das elites de São Paulo.

Processo: 10/20724-5
Modalidade de apoio:Bolsas no Brasil - Pós-Doutorado
Vigência (Início): 01 de julho de 2011
Vigência (Término): 30 de junho de 2012
Área do conhecimento:Ciências Sociais Aplicadas - Arquitetura e Urbanismo - Fundamentos de Arquitetura e Urbanismo
Pesquisador responsável:Paulo César Garcez Marins
Beneficiário:Carolina Martins Pulici
Instituição Sede: Museu Paulista (MP). Universidade de São Paulo (USP). São Paulo , SP, Brasil
Assunto(s):Apartamentos   Brasil   São Paulo
Palavra(s)-Chave do Pesquisador:apartamentos | Brasil | campo da arquitetura | gênese social do gosto neoclássico | São Paulo | Arquitetura e Urbanismo

Resumo

Estudos sobre os padrões de gosto arquitetônico das elites brasileiras revelam renitente ausência de pretensão vanguardista no que tange à estética do projeto de residência estimado, e tal inclinação tradicionalista dá-se a ver no servilismo aos padrões europeus de "bom gosto" e à vida aristocrática que presumem simbolizar. A imitação malfeita de modelos estrangeiros de moradia é tema que percorre a história da arquitetura feita no Brasil e, ainda que sob novas roupagens, um processo análogo é comumente relacionado à proliferação de edifícios residenciais autodenominados neoclássicos na São Paulo contemporânea. Para os arquitetos que se manifestaram na imprensa, o "neoclassicismo" que só faz crescer na paisagem arquitetônica paulistana não passaria de cópia espúria, que homenageia uma linguagem anacrônica e enfatiza a fachada "nobre" sedutora de uma elite de "dinheiro novo" empenhada em comprar um passado heráldico. "Fraudulentos", tais prédios pecariam em sua volumetria e excessiva licenciosidade, misturando colunas, arcos e adornos da arquitetura clássica com mansardas parisienses. A evocação degradante do repertório clássico nos edifícios de São Paulo também foi discutida na literatura acadêmica de história da arquitetura. Ambas as fontes enfatizam a servidão às leis mercadológicas que teriam transformado a arquitetura num "produto" de qualidade e de gosto duvidosos. Tendo em vista questões que interessam mais diretamente ao sociólogo da cultura, é possível dizer que pouco se explicitou, até o momento, o processo coletivo de consagração desse referido bem econômico e simbólico que, em grande medida, viabiliza-se mesmo na ausência de qualquer melhoria substantiva no "produto" ofertado. Admitindo-se a dupla natureza dos bens simbólicos, tem-se que os circuitos de produção e circulação material são simultaneamente ciclos de consagração que produzem legitimidade e, em função disso, o princípio da eficácia dos prédios "neoclássicos" não deve ser buscado apenas em suas características formais e construtivas, mas também nas condições sociais que produzem a crença nesse estilo residencial. Dado que o valor distintivo de um produto é sempre relacional, relativo à estrutura do campo em que se definiu, há que se investigar como os propagadores desse tipo de projeto se destacaram de seus concorrentes na luta pelo monopólio da legitimidade em matéria de habitação. A empreitada de reconstituição da gênese e estrutura de um "campo" de produção identificará as diferenças oficialmente reconhecidas através das taxonomias vigentes nesse universo de produtores-adversários, buscando esquadrinhar as polarizações que apontam para divergências no modo de conceber e praticar a "rainha das artes". Nesse percurso, buscarei reconstituir os habitus de classe mais inequivocamente reconciliados com tal padrão arquitetônico, notadamente através do levantamento do volume, estrutura e evolução no tempo do capital de seus promotores e clientelas na segunda metade do século XX. Sem negar os condicionantes econômicos que regem o mercado imobiliário e as imposições inelutáveis a que estão sujeitos os empreendimentos construtivos no mundo contemporâneo, a pesquisa abordará o fenômeno por outro ângulo e como fato social, isto é, a reconstrução histórica da gênese social desse gosto no âmbito da arquitetura doméstica de elite na cidade de São Paulo investigará tais construções como indícios do empreendimento necessariamente coletivo de veneração que a pesquisa pretende decifrar. Da mesma forma, a proliferação desses edifícios não será avaliada do ponto de vista técnico-construtivo, mas a partir do enfoque permitido pela Sociologia, que buscará compreender tal opção estética em função das expectativas de honra e estima social de suas clientelas e das tomadas de posição de seus produtores na estrutura do campo das estratégias antagonistas em luta pela imposição do padrão legítimo de habitação.

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