Constituição humana, deficiência e educação: problematizando o conceito de compensação na perspectiva histórico-cultural

Resumo

Tratar de conceitos na obra de Lev S. Vigotski é sempre um desafio que repercute em polêmicas, posto o seu caráter de inacabamento, intersecção e não fechamento de noções. Tendo em vista que o autor não fornece respostas prontas, mas aponta caminhos para possíveis discussões que permeiam a contemporaneidade, a presente pesquisa está orientada para a reflexão do conceito de compensação, abordado nas suas análises sobre a problemática do processo de constituição cultural de crianças com deficiências. Embora esse conceito seja muito mencionado por estudiosos da área na atualidade, ele não tem sido explorado. Mesmo reconhecendo a relevância conceitual da compensação, sabe-se que as formulações originais requerem maior clarificação, o que indica a necessidade de mapear, suscitar e tramar novas discussões, ponderar sobre aspectos inconclusos, chamando atenção para o que Vigotski anuncia, mas não explicita. Considera-se que uma discussão que toma como ponto de partida este conceito na abordagem histórico-cultural diz respeito aos modos de conceber e argumentar sobre a deficiência face à educação, à noção de (condições de) desenvolvimento e constituição humana, à linguagem (signo) no (inter)jogo de significações e sentidos das/nas práticas sociais. Esse movimento de problematização conceitual por meio de um estudo analítico adota como campo empírico a instituição escolar. Vale ressaltar a relação e a tensão assumida neste estudo entre a teoria e o empírico, uma vez que a (re)elaboração conceitual da compensação ecoa (reflete e refrata) na prática educativa, ao mesmo tempo em que essa afeta o sentido do próprio termo. Desta forma, a (in)consistência desse conceito precisa ser (re)pensada a partir das situações concretas vivenciadas no contexto da educação inclusiva. (AU)