Estudo farmacológico e neuroquímico dos óleos essenciais de Cymbopogon citratus (DC) Stapf e Citrus aurantium L.

Resumo

A depressão e a ansiedade representam algumas das mais comuns e proliferativas doenças de saúde no mundo cuja etiologia parece depender de uma interação entre predisposição e fatores ambientais. Tradicionalmente se postula que ansiedade e depressão são desordens separadas e distintas. Entretanto, muitos estudos clínicos têm demonstrado uma grande sobreposição entre esses dois estados. Estima-se que a depressão atinja cerca de 21% da população em alguns países desenvolvidos. No Brasil, os transtornos ansiosos, encontram-se entre os mais prevalentes diagnósticos psiquiátricos. Um estudo multicêntrico de morbidade psiquiátrica de adultos demonstrou as seguintes estimativas de prevalência: 12,1% para Brasília, 6,9% para São Paulo e 5,4% para Porto Alegre. Um mecanismo fisiopatológico comum para a ansiedade e a depressão, consistiria de modificações nos sistemas de neurotransmissão relacionados às monoaminas e à desregulação do eixo Hipotálamo-Hipófise-Adrenal. Atualmente, a maioria dos transtornos de ansiedade é tratada com drogas que interferem, de modo mais ou menos seletivo, com a neurotransmissão gabaérgica e serotonérgica e/ou noradrenérgica. Estes sistemas de neurotransmissores podem ser os mediadores da ansiedade “normal” e também da ansiedade patológica. A depressão, por sua vez, tem seu tratamento fundamentado no aumento da disponibilidade de serotonina ou noradrenalina, mecanismo comum às principais drogas disponíveis para a terapêutica, como os inibidores da monoamina-oxidase e os antidepressivos tricíclicos. Um grupo de drogas mais recentemente disponibilizado é o dos inibidores seletivos da recaptação de serotonina, que atuam com menos intensidade sobre as outras monoaminas, inclusive a noradrenalina. Atualmente as drogas disponíveis na clínica não são capazes de controlar os quadros ansiosos e/ou depressivos em boa parte dos pacientes e possuem efeitos colaterais importantes. Assim, os múltiplos efeitos adversos das drogas disponíveis, e a sua eficácia limitada em uma considerável proporção de pacientes, justificam os esforços no sentido de encontrar novas substâncias com potencial atividade sobre a ansiedade e/ou a depressão.Deste modo, faz-se necessário encontrar novas substâncias com potencial atividade antidepressiva e ansiolítica. É neste contexto que surgem as plantas medicinais, dentre as quais as espécies Cymbopogon citratus e Citrus aurantium apresentam grande potencial, pois são utilizadas na medicina popular como calmante, sedativa, ansiolítica. No entanto, apesar do intenso uso destas plantas para fins medicinais, são praticamente inexistentes as pesquisas farmacológicas a respeito. Uma ampla investigação acerca da presença da atividade antidepressiva e ansiolítica em novas substâncias envolve a utilização de modelos experimentais adequados que têm sido considerados a espinha dorsal da pesquisa de novas drogas. Resultados prévios obtidos em nosso laboratório demonstram a presença de atividade ansiolítica em diferentes modelos experimentais tanto para o óleo essencial obtido de C. citratus quanto para o obtido de C. aurantium. Estas espécies vegetais, a despeito da grande utilização empírica, foram objetos de poucos estudos controlados no sentido de se caracterizar suas atividades terapêuticas ou tóxicas sobre o Sistema Nervoso Central. Deste modo, o presente trabalho pretende contribuir para o melhor entendimento da atividade sobre o Sistema Nervoso Central dos óleos essenciais obtidos destas espécies. (AU)