Além da seção de controle: a história escondida dos latossolos

Resumo

Embora intensamente estudados por pedólogos na região tropical, diversas perguntas ainda estão sem respostas consistentes no que tange à gênese e morfologia dos Latossolos (Ferralsols, Oxisols). O foco excessivo das investigações pedológicas na parte superior desses solos, ou seja, dentro da seção de controle (200 cm), tem deixado sistematicamente de lado os registros que podem existir de diferentes momentos de pedogênese nesses solos e que estão a maiores profundidades, por vezes a vários metros da superfície. Expressões generalizadas como "caráter poligenético", "bioturbação em todo o perfil", "pedogênese complexa" são os argumentos mais frequentes para quem se depara com feições difíceis de serem interpretadas e hierarquizadas nesses solos. O que pode ser generalizado para os Latossolos em termos de pedogênese? Latossolos sob Cerrado, Mata Atlântica e Floresta de Araucárias sofreram processos pedogenéticos idênticos? Qual é a influência do material parental? O que difere a pedogênese em Latossolos de superfícies geomórficas com idades muito diferentes? Essas são as perguntas gerais deste projeto e o objetivo principal é primeiramente revisitar os estudos realizados para entender a gênese de Latossolos e sua relação com superfícies de aplainamento para depois escolher, descrever e amostrar esses solos, até o contato com o saprolito, além da seção de controle, em regiões que representam diferentes condições bioclimáticas, geomorfológicas e geológicas no Brasil. As áreas escolhidas contemplam a Depressão Periférica Paulista, o oeste de Minas Gerais e a Província Basáltica do Paraná, onde perfis de Latossolos serão selecionados para descrição morfológica e amostragem de alta resolução. Para reconstituir as mudanças paleoambientais em diferentes escalas temporais e relacioná-las com a pedogênese, serão realizadas datações (14C e U-Th/He), análise da composição isotópica (´13C) e da assembléia fitolítica ao longo dos perfis de solo. Na área sobre basalto, com Latossolos argilosos derivados de um só material de origem e com variação climática bem definida, será também feito um estudo da química da matéria orgânica do solo (MOS) por meio de pirólise CG/EM para reconstituição paleoambiental do Quaternário. Análises químicas, mineralógicas e geoquímicas, dissoluções seletivas e granulometria serão realizadas em amostras selecionadas dos perfis do solo para avaliar os processos pedogenéticos e a natureza do material de origem dos Latossolos. A análise micromorfológica será realizada de forma sistemática e com foco para a descrição e quantificação das feições biológicas para avaliar se a intensidade e forma da ação da fauna é diferenciada tanto em profundidade como em distintos materiais de origem e condições ambientais. Espera-se que a partir dos resultados obtidos nas três áreas de estudo seja possível incrementar o entendimento na gênese desses solos como um contínuo desde a superfície até o contato com o saprolito e esclarecer questões ainda pouco investigadas desses que são os solos mais representativos do território brasileiro. (AU)