Estudo transversal: composição neural da mucosa nasal dos cornetos inferiores de pacientes com rinite alérgica e não alérgica

Resumo

A rinite alérgica é uma reação de hipersensibilidade tipo I caracterizada por inflamação onde predominam os eosinófilos, mediada por imunoglobulina E e mediadores inflamatórios responsáveis pela sintomatologia. O sistema nervoso autônomo atua na fisiologia nasal diminuindo a resistência aérea e aumentando a secreção nasal através de suas vias simpáticas e parassimpáticas, respectivamente. O funcionamento neural da rinite alérgica, tampouco das não alérgicas, ainda não está bem esclarecido. Alguns estudos sugerem a existência de um desbalanço autonômico na rinite idiopática ou vasomotora, com inibição da resposta do sistema nervoso simpático no nariz e hiperreatividade do sistema parassimpático. Na rinite alérgica ocorre também a hiperreatividade a estímulos inespecíficos. Agentes como odores, mudanças climáticas e poluição são capazes de desencadear toda a sintomatologia da rinite sem atuarem diretamente como alérgenos. Mudanças na estrutura e função dos nervos (plasticidade neuronal) podem contribuir para a fisiopatologia da rinite alérgica, bem como a resposta a irritantes exógenos e mediadores endógenos. Alguns autores sugerem o envolvimento das neurotrofinas na ativação dos nervos sensoriais e das células-alvo principais da resposta inflamatória das vias aéreas superiores. As principais neutrofinas envolvidas neste processo são: NGF (nerve growth factor) e BDNF (brain-derived neurotrophic factor). O aumento dos níveis dos canais sensoriais de sódio nas rinites alérgica e não alérgica pode contribuir para o estado de hipersensibilidade, independentemente do grau de inflamação ativa. Os canais de sódio dependentes de voltagem estão na base da geração e propagação do potencial de ação. Produto protéico do gene 9.5 (PGP 9.5) é um marcador pan-neuronal e tem sido utilizado para demonstrar a presença de neurônios nos tecidos. Na rinite alérgica, o número de fibras nervosas positivas para PGP 9,5 estava aumentado no epitélio, subepitélio, e nas glândulas mucosas mais profundas e regiões dos vasos sanguíneos. A literatura recente tem mostrado o aumento da função neural na mucosa nasal dos indivíduos com rinite alérgica através de neurotrofinas, fibras nervosas e canais de sódio, relacionando com a hipersensibilidade inespecífica. No entanto, faltam pesquisas que relacionem a quantidade destes marcadores com a intensidade dos sintomas e poucos estudos avaliaram indivíduos com rinite não alérgica. O objetivo deste estudo é comparar a atividade neuronal na mucosa nasal, através da presença de neurotrofinas e fibras nervosas, com a intensidade dos sintomas dos pacientes com rinite, diferenciando os indivíduos alérgicos e não alérgicos. O estudo será realizado com 15 pacientes com rinite alérgica e 15 pacientes com rinite não alérgica, todos eles com indicação de turbinectomia inferior parcial, associada ou não à septoplastia. Todos os pacientes realizarão endoscopia nasal, teste cutâneo de hipersensibilidade imediata (prick test) com antígenos inalatórios e exame citológico nasal. As amostras de tecido do corneto inferior serão submetidas à coloração HE (hematoxilina-eosina) para quantificação das células inflamatórias, principalmente eosinófilos e mastócitos. Será feito o estudo imunohistoquímico com anticorpos para PGP9,5 (marcador neural), NGF, BDNF, NaV1.7, NaV1.8 e NaV1.9. Será utilizado o material coletado na pesquisa (Protocolo de Pesquisa n° 0670/07) "Análise da deposição de colágeno na membrana basal das conchas inferiores de pacientes com rinite alérgica e irritativa" do pesquisador executante Daniel Cauduro Salgado e pesquisador responsável Prof. Dr. Richard Louis Voegels. Os achados imunohistoquímicos serão correlacionados com a clínica e comparados os grupos dos alérgicos e não alérgicos. (AU)