Impacto do exame radiográfico no diagnóstico e decisão de tratamento de lesões de cárie em dentes decíduos

Resumo

Apesar da maioria dos guias de protocolo clínico indicar a realização de duas tomadas radiográficas interproximais para detecção de cárie nos molares decíduos de crianças assintomáticas, a evidência é baseada na sua maioria em estudos transversais in vitro ou realizados em populações de conveniência. No entanto, os benefícios e o impacto da realização da radiografia no diagnóstico e na decisão de tratamento de lesões de cárie em dentes decíduos não têm sido avaliados considerando desfechos ligados ao paciente, tais como, necessidade futura de tratamentos operatórios, custo e qualidade de vida dos pacientes. Assim, o objetivo do presente estudo será avaliar o impacto do exame radiográfico para detecção de lesões de cárie em dentes decíduos comparando com a realização do exame visual isoladamente, considerando diferentes desfechos de validade e desfechos ligados à saúde e bem estar das crianças. Para isso, serão desenvolvidos três estudos com diferentes desenhos experimentais, que terão os seguintes objetivos específicos: (1) avaliar a validade do exame radiográfico complementar ao exame visual na detecção de lesões de cárie proximais em molares decíduos em crianças com baixa e alta experiência de cárie num estudo transversal; (2) avaliar o impacto do exame radiográfico complementar ao exame visual no diagnóstico e decisão de tratamento de lesões de cárie em dentes decíduos através de um estudo de antes e depois; (3) avaliar o impacto do exame radiográfico complementar ao exame visual para detecção de lesões de cárie em dentes decíduos sobre necessidades futuras de tratamentos operatórios e qualidade de vida relacionada à saúde bucal da criança, utilizando um estudo clínico randomizado. Para isso, 250 crianças de 3 a 6 anos de idade que buscarem tratamento odontológico na nossa escola serão aleatoriamente alocadas em dois grupos de acordo com a estratégia diagnóstica utilizada para detecção de cárie: exame visual isolado para elaboração do plano de tratamento (grupo controle) ou exame visual associado ao radiográfico (grupo teste). Após elaboração do plano de tratamento por dois examinadores, as crianças serão tratadas e acompanhadas por 2 anos, realizando-se avaliações após 12 e 24 meses. O desfecho primário será o número de superfícies com necessidade de tratamento operatório nas consultas de acompanhamento. Isso contemplará a proposição contida no objetivo (3). Após a elaboração do plano de tratamento, as crianças alocadas no grupo controle serão avaliadas com relação ao desempenho na detecção de lesões proximais usando o método visual isolado e associado à radiografia, e um novo plano de tratamento será realizado após a consulta às radiografias. A performance das duas estratégias para detecção de lesões proximais será validada por separação temporária com elástico ortodôntico, e os planos de tratamento com e sem a radiografia serão confrontados e comparados. Isso contemplará os objetivos (1) e (2), respectivamente. (AU)