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O imaginário do além-mundo na apocalíptica e na literatura visionária medieval

Processo: 10/16802-0
Modalidade de apoio:Auxílio à Pesquisa - Regular
Vigência: 01 de fevereiro de 2011 - 31 de janeiro de 2013
Área do conhecimento:Ciências Humanas - Teologia - História da Teologia
Pesquisador responsável:Paulo Augusto de Souza Nogueira
Beneficiário:Paulo Augusto de Souza Nogueira
Instituição Sede: Faculdade de Humanidades e Direito. Universidade Metodista de São Paulo (UMESP). Instituto Metodista de Ensino Superior (IMS). São Bernardo do Campo , SP, Brasil
Assunto(s):Cristianismo primitivo  Bíblia  Novo testamento  Apocalipse  Literatura visionária  Imaginário 
Palavra(s)-Chave do Pesquisador:Apocalíptica apócrifa do Novo Testamento | História da Recepção da Bíblia | Imaginário do Além-Mundo | Viagens Medievais ao Além-Mundo | Apocalíptica e Literatura Visionária

Resumo

A literatura do cristianismo primitivo teve um papel determinante na constituição do imaginário ocidental do além-morte. A partir da estrutura e dos temas de algumas das narrativas do Novo Testamento se originaram muitas das visões medievais sobre o mundo do além. No Evangelho de Mateus (cap.24) encontramos a imagem do juízo e da separação, à esquerda e à direita (respectivamente perdição e salvação) de ovelhas e bodes, ou seja, de pecadores e de justos. Na literatura paulina (em 1Tess. 4-5 e em 1Cor. 15) encontramos descrições da vinda de Jesus nas nuvens e da ressurreição dos mortos no juízo final. No Apocalipse de João - uma das obras que mais influenciou o imaginário do além no ocidente - encontramos descrições da ressurreição dos justos e da condenação dos ímpios por ocasião da destruição das forças do mal e da renovação cósmica. Nestes e em outros textos do Novo Testamento encontramos duas tendências que nunca se excluíram. Uma de representação do juízo e da ressurreição após os cataclismos do final dos tempos, constituindo uma escatologia cósmica. E outra, que se refere à vida eterna, à imortalidade, às recompensas e punições intermediárias, que antecedem o juízo final, configurando desta forma uma escatologia individual. O cristianismo na antiguidade sempre desenvolveu ambas as tradições, lado a lado, numa ambiguidade que permitia alimentar a esperança de destruição dos poderes do mal, de recriação cósmica e de reunião e restabelecimento dos justos, sem, no entanto, excluir a esperança de uma resolução individual após a morte. A transformação destas crenças e narrativas, limitadas inicialmente ao movimento cristão - uma nova religião ainda incipiente no seio do Judaísmo - em elementos estruturantes do imaginário da sociedade européia medieval não aconteceu sem complexas traduções e adaptações em sua linguagem. Se a apocalíptica do Novo Testamento lança as imagens fundamentais, a estrutura narrativa e o vocabulário que estruturam os dois tipos de escatologia, é nos apócrifos, em especial no Apocalipse de Pedro e na Visio Pauli, que encontramos a transformação desses temas em todo um sofisticado repertório narrativo de relatos de visionários que visitam e descrevem o além-mundo. Estes visionários descrevem em linguagem piedosa e não-erudita - talvez refletindo perguntas de estratos populares ou intermediários da cultura - o destino compartimentado dos pecadores e dos justos, a geografia do mundo do além e seus seres, tanto angélicos quanto demoníacos. Eles deram o tom que predominou nos relatos posteriores, produzidos ou transmitidos por monges e homens santos. Trata-se do gênero viagem ao além que se tornou difundido na Europa Medieval, como, por exemplo, as Visões de Túndalo, do século XII, que teve repercussão inclusive na Península Ibérica.Este projeto propõe, além do tratamento das fontes e do desenvolvimento histórico do tema, uma reflexão metodológica de caráter interdisciplinar. Por um lado, os saberes da exegese bíblica são necessários para abordar questões relativas a fontes, gêneros literários e desenvolvimentos da tradição bíblica. Mas isso não basta. A exegese tradicional parece estar despreparada para vôos de alcance mais longo (de longa duração) e para a consideração de tradução em diferentes linguagens (oral, escrita, visual, popular, erudita, clerical, leiga, etc). Neste caso precisamos da abordagem da história cultural com seus conceitos de imaginário, estratos intermediários da cultura e relação circular entre diferentes níveis da cultura. Adotaremos também o conceito de texto da escola Tártu-Moscou de semiótica da cultura. O texto é aqui considerado como uma unidade dinâmica de significação que é submetido a constantes traduções e que sempre se desloca para as fronteiras de uma cultura dada. Nos interessa, portanto, estudar como as narrativas bíblicas sobre o mundo do além são transformadas pelos apócrifos e pela literatura visionária medieval até a constituição de um imaginário ocidental. (AU)

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