O Clado Adesmia (Leguminosae, Papilionoideae) como modelo para entender evolução das diagonais secas da América do Sul

Resumo

Ambientes secos ocorrem em alguns dos biomas dominantes da Terra, cobrindo mais de 40% da área terrestre do planeta. Esses ambientes encontram-se em expansão e sob iminente risco de desertificação devido às mudanças climáticas. Na América do Sul, os ambientes secos estão concentrados em duas diagonais secas: a Diagonal Seca Oeste da América do Sul (wSADD), que engloba Patagônia, Puna e os desertos da costa do Pacífico, e a Diagonal Seca Leste da América do Sul (eSADD), que abrange a Caatinga, o Cerrado e o Chaco. Ambas as diagonais tiveram origem durante o Mioceno, o que é evidenciado por eventos geoclimáticos e pela expansão de grupos de plantas adaptados a ambientes abertos e secos nesta época. Até pouco tempo atrás, o termo SADD era utilizado para ambas as diagonais mas sem definição e delimitação entre as duas diagonais, gerando confusão entre pesquisadores. Isso é decorrente, em parte pelas características distintas das duas diagonais, e em parte pela falta de comunicação entre pesquisadores brasileiros (focados na eSADD) e pesquisadores de outros países da América do Sul (focados na wSADD). Dessa forma, há uma lacuna de conhecimento em relação a como estes dois corredores de ambiente áridos a secos, sub-húmidos ou sazonais se relacionaram no espaço-tempo, quais características climáticas foram seletivas aos seres vivos em cada diagonal, qual o papel de ecorregiões adjacentes na diversificação da biota das diagonais, e outras diversas questões. Neste projeto, nós objetivamos utilizar o clado Adesmia, uma linhagem da família Leguminosae (Papilionoideae, Tribo Dalbergieae) extremamente diversa nas duas diagonais (5 gêneros, 330 spp) como modelo para compreender a evolução, adaptação e biogeografia de seres vivos das SADD com uma abordagem integrativa inédita. Nós vamos sequenciar o genoma de pelo menos 150 espécies do clado Adesmia usando NGS, por meio da estratégia de "captura de sequências direcionadas" (targeted capture), aliados a um banco de dados curado por especialistas com dados de ocorrência, morfologia externa, anatomia e ontogenia floral. Árvores filogenéticas serão inferidas utilizando Máxima Verossimilhança e os caracteres ancestrais e tempo de divergência serão inferidos por análises utilizando o pacote Phytools (R) e no BEAST v.2.5.2, respectivamente. Os dados serão utilizados para abordar questões biogeográficas e evolutivas, sistemáticas e taxonômicas, e em relação à biologia estrutural. (AU)