Auxílio à pesquisa 21/15249-0 - Filosofia contemporânea, Ontologia (filosofia) - BV FAPESP
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Ontologia em Merleau-Ponty: estrutura, instituição e passividade

Resumo

A questão sobre a presença e os desdobramentos de uma ontologia no interior da reflexão filosófica de Merleau-Ponty não é uníssona. Como se sabe, há um extenso debate entre os estudiosos sobre o tema, que retomaremos no decorrer de nossas discussões. Dentre as diferentes perspectivas descritas, uma delas tem ocupado lugar central. Trata-se da leitura cujo eixo diretriz foi estabelecido por Renauld Barbaras em seu texto L'etre du phénoméne, por meio da afirmação de uma clara cisão na obra do autor, distinguindo dois momentos em sua filosofia. O primeiro, abrangendo a Estrutura do Comportamento e a Fenomenologia da Percepção, seria marcado pela incapacidade do filósofo em efetivamente sair dos parâmetros de uma filosofia intelectualista, encontrando-se ausente qualquer perspectiva ontológica em suas descrições. Seria necessário, então, o advento do estudo sobre a linguagem, e em especial do caráter diacrônico do signo, para que a reflexão do filósofo pudesse ultrapassar essa perspectiva, libertando-se do intelectualismo e inaugurando um movimento "novo" em sua obra, começando a aproximar-se de uma ontologia que, de fato, apenas ganharia efetividade em seus últimos textos. Haveria, assim, uma espécie de insuficiência no "primeiro" Merleau-Ponty, expressa na incapacidade de formular teoricamente suas descobertas analíticas. Nessa mesma linha, autores como Lefort também alertaram para o intelectualismo inicial de Merleau-Ponty, marcado, no caso, pela tentativa da Fenomenologia da Percepção de formular uma pretensa identidade entre o pensamento e o ser (Sur une colonne absente, Paris: Gallimard). É justamente essa linha de leitura, ainda hoje bastante presente, que será aqui posta em questão. Evidentemente, nosso foco não é trabalhá-la diretamente, e sim propor uma possibilidade diversa de leitura, uma outra hermenêutica sobre a reflexão do filósofo. Procuraremos sustentar a tese de que há uma perspectiva ontológica que percorre toda a obra de Merleau-Ponty, estabelecendo um eixo constante em sua reflexão. Nosso percurso se inicia pela tentativa de explicitar a presença de uma ontologia já na primeira formulação da noção de estrutura, feita por Merleau-Ponty em A estrutura do Comportamento, mostrando como já ai o filósofo propõe um tipo de unidade ontológica entre o Ser e o Nada, recusando as noções de em-si e para-si como entidades positivas e opositivas. Em seguida, buscamos mostrar como essa ontologia ganha corpo na análise da noção de instituição, assumindo um papel central em sua formulação, respondendo por uma unidade espontânea e originária entre o Ser e o Nada que embasará as diversas descrições do filósofo, propondo uma mediação intrínseca entre totalidade e diferença. Passamos, então, à explicitação do modo pela qual a análise da passividade retoma e aprofunda essa perspectiva ontológica já presente nas noções anteriores, mostrando uma negatividade estrutural, responsável por fazer ser, recusando o dualismo clássico ao ensinar a reversibilidade primária e constitutiva existente entre atividade e passividade. Procuramos, assim, mostrar o modo pelo qual a filosofia de Merleau-Ponty configura, ainda que algumas vezes de modo não inteiramente evidente para seus leitores, uma compreensão ontológica própria, cuja continuidade intrínseca encontra-se assegurada pela paulatina reconfiguração das noções de Ser e Nada, gradualmente reelaborados por um pensamento desde seu início marcado por um viés ontológico mais central do que comumente se considera. Pretendemos, desse modo, evidenciar a dimensão de continuidade presente em sua obra e, ao mesmo tempo, a posição original que ela assume no debate filosófico de seu tempo, sustentando uma leitura diversa daquela mais difundida entre seus estudiosos. (AU)

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