Inovação nos acidentes por abelhas: da prova de conceito ao desenvolvimento de um kit diagnóstico do agravo do acidente

Resumo

Nas últimas décadas, a expansão das abelhas africanizadas (Apis mellifera) no Brasil e em toda a América fez com que as autoridades de saúde pública incluíssem o acidente apílico como objeto de vigilância sanitária. Desde o advento da hibridização e o surgimento das abelhas africanizadas no território brasileiro em 1954, as notificações de severos acidentes por abelha têm sido registradas por todo continente americano. Além dos processos alérgicos, que variam desde leves a graves, as múltiplas ferroadas estão associadas em geral a quadros de envenenamentos graves. O crescente número de casos clínicos e consequentemente de óbitos despertou a necessidade de se dispor de um tratamento eficaz e alternativas diagnósticas. O tratamento utilizado atualmente se baseia em reduzir a sintomatologia com anti-histamínicos, adrenalina e glicocorticóides; por outro lado, há um antiveneno em fase de teste, o soro antiapílico, produzido pelos pesquisadores do Centro de Estudo de Venenos e Animais Peçonhentos (CEVAP/UNESP) e do Instituto Vital Brazil (IVB). Porém existe ainda um desafio a ser trabalhado no âmbito de diagnosticar o agravo do acidente por múltiplas ferroadas de abelhas: qual a quantidade de medicamentos/antiveneno a ser administrada a cada paciente se não se sabe a quantidade de veneno circulante no organismo da vítima? Atualmente, o procedimento de contagem dos ferrões presentes no corpo da vítima juntamente com as observações das manifestações clínicas do envenenamento pela equipe médica, são as únicas fontes de informação para avaliar o grau de envenenamento. Porém, além deste processo ser demorado, sabe-se que a quantidade injetada de veneno por cada abelha pode ser diferente e algumas ferroadas podem ser "vazias" - sem a introdução de veneno. Por experiência prévia no ensaio clínico de Fase I/II utilizando o novo soro antiapílico produzido pelo CEVAP e IVB, foi possível observar que o número de ferroadas é uma medida diagnóstica do agravo do envenenamento apílico. Diante deste desafio, esta proposta de pesquisa e desenvolvimento PIPE FAPESP FASE I consiste em elaborar um kit de diagnóstico inédito que classifique a gravidade do acidente com a finalidade de auxiliar a conduta médica, evitando assim o tratamento com excesso ou falta de medicamentos/antiveneno, redução do tempo de internação/ocupação de leitos de UTI e, redução das possíveis sequelas e óbitos. Ao final desta proposta, espera-se que os resultados obtidos forneçam dados técnico-científicos no que se refere a limiares de sensibilidade e especificidade do kit proposto, promovam o desenvolvimento de um dispositivo eficaz e eficiente para indicar o agravo dos acidentes apílicos. Este dispositivo diagnóstico é inédito no mercado mundial, de baixo custo e de fácil uso por analistas dos laboratórios clínicos que dão suporte às unidades de saúde e de baixo custo. Tendo em vista que a tecnologia que será desenvolvida poderá ser transferida internacionalmente, esta proposta tem um impacto positivo financeiramente frente aos dados de notificações de acidentes por abelha no continente americanos anualmente. (AU)